A arte de Argumentar
Senso Comum, Paradoxo e Maravilhamento
Tudo aquilo que pensamos e fazemos é fruto dos
discursos que nos constroem, enquanto seres psicossociais. Na sociedade em que
vivemos somos moldados por uma infinidade de discursos.
Entre todos os discursos que nos governam, o
mais significativo deles é o discurso do senso comum. Trata-se de um discurso
que permeia todas as classes sociais, formando a chamada opinião publica. Na
verdade o discurso do senso comum, não é um discurso articulado é formado por
fragmentos de discursos articulados. Uma fonte destes discursos são os ditos
populares, podemos ate mesmo dizer que os momentos de grandes descobertas das
grandes invenções, foram também momentos em que as pessoas foram capazes de
opor-se ao discurso do senso comum.
Voltando a Atenas e aos professores de retórica,
uma das técnicas mais utilizadas por eles para arejar a cabeça dos atenienses
contra o discurso do senso comum, era de criar paradoxos – opiniões contrarias
ao senso comum. Essa palavra foi substituída no expressionismo alemão, no
surrealismo Frances, e, sobretudo no formalismo russo, pela palavra
estranhamento, definida como capacidade de tornar novo aquilo que já se tornou
habitual em nossas vidas.
Uma das técnicas do paradoxo era criar discursos
a partir de um antimodelo, ou seja, escolhia algum tema sobre o qual já
houvesse uma opinião formada pelo senso comum e escrevia-se um texto
contrariando essa opinião.
A retórica clássica se baseava na diversidade de
pontos de vista, no verossímil, e não em verdades absolutas. Isso fez com que a
dialética e a filosofia da época se aliassem contra ela. Platão procurava
mostrar que a retórica visava apenas os resultados, em quanto que a filosofia
visava sempre o verdadeiro. Isso fez com que a retórica decaísse perante a
opinião publica durante séculos. A palavra sofista passou a designar pessoa de
ma Fe que procura enganar utilizando argumentos falsos. O interessante e que o
próprio Platão, na sua republica, utiliza amplamente os recursos retóricos que
ele próprio condenava.
Nos dias de hoje, a
partir dos estudos da Nova Retórica e do chamado Grupo u, de Liège, na Bélgica,
a retórica foi amplamente reabilitada, beneficiada pelos estudos de outras
ciências que se configuraram nesse século, como a Linguística, a Semiótica, a
Pragmática e a Análise do Discurso.
Os métodos retóricos da exploração da
verossimilhança e dos diferentes pontos de vista sobre um agente ou
circunstância têm sido o ponto de partida que vem impulsionando o vasto avanço
moderno da ciência e da tecnologia. Um ótimo exemplo desse avanço são os trabalhos
no campo da oncologia do médico Judah Folkman. A habilidade de ver e sentir um
objeto ou situação em diferentes perspectivas é importante em qualquer campo de
conhecimento, dado que está ligada ao exercício da criatividade. A esse
respeito Fernando Pessoa diz:
A única maneira de
teres sensações novas é construíres-te uma alma nova. Baldado esforço o teu se
queres sentir outras coisas sem sentires de outra maneira, e sentires-te de
outra maneira sem mudares de alma. Porque as coisas são como nós a sentimos há
quanto tempos sabes tu isto sem o saberes? - e o único modo de haver coisas
novas, de sentir coisas novas é haver novidade no senti-las.
Uma carta de amor, por exemplo, pode ser
entendida apenas como uma forma de uma pessoa transmitir a outra seus
sentimentos. Mas pode também ser entendida de muitas outras maneiras, como no
seguinte trecho de Rubem Alves: Uma carta de amor é um papel que liga duas
solidões, Bem pode ser que as coisas que estão nela escritas não sejam nenhum
segredo, que possam ser contadas a todos. Mas, para que a carta seja de amor,
ela tem de ser lida em solidão. A carta que a mulher tem nas mãos, que marca o
seu momento de solidão, pertence a um momento que não existe mais. Ela nada diz
sobre o presente do amante distante. Daí a sua dor. O amante que escreve alonga
os seus braços para um momento que ainda não existe. A amante que lê alonga os
seus braços para um momento que não mais existe. A carta de amor é um abraçar
do vazio.
Acadêmicos :Fernanda Pita, Paulo Ricardo , Mateus
Foturna ,William Machado.
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